Um dos mais desafiantes textos da poesia portuguesa.
Uma viagem louca pelo imaginário coletivo das viagens veleiras, pelo abismo da alma, pela crueldade no delírio.
A leitura da Ode será integral, ao longo de cerca de uma hora, despida de cenário e adereços.
O texto, a voz e a luz.
«Na Ode Marítima, exterior e interior são separados pela mesma "Distância" que vai do poeta no cais deserto ao navio que ele vê ao longe. É a distância entre a sensação e a coisa, entre a sensação como realidade interior e o paquete como realidade exterior. Ora, esta distância liga-se a uma sensação "primitiva", como diz Pessoa, sensação que desempenha um papel essencial em toda a sua poesia: a sensação de mistério.
Na Ode Marítima, o mistério é significado por toda a distância, tudo o que se separa, todo o movimento que cria uma separação. Se analisar sensações consiste, assim, em extrair delas o que contêm, exteriorizando-o, tornando-o significável por palavras — então, analisar a sensação de mistério equivale a reduzir essa distância que suscita o mistério.
E, com efeito, todo o poema pode ser encarado nesta perspectiva: como vencer a Distância, ou seja, todas as distâncias de todas as naturezas que surgem, uma após outra (entre o paquete e o cais, entre eu-agora e eu-outrora, entre um cais e o Cais, etc.); mas também, e porque é esse o verdadeiro fundamento de toda a distância — como fazer desaparecer a oposição entre os dois pólos da sensação, o interior e o exterior.»
Do Posfácio de José Gil, PESSOA, Fernando. "Ode Marítima". Lisboa: Ed. Relógio D'Água
criação e interpretação Pedro Lamares
desenho de luz e direção técnica Joaquim Madaíl
produção companhia nacional de espectáculos
fotografias Eduardo Martins e IPBEJA
um projeto Casca da Noz
promoção, difusão e agendamento Companhia Nacional de Espectáculos
Álvaro de Campos (1890 - 1935) é um dos heterônimos mais conhecidos de Fernando Pessoa. Nascido em Tavira, teve a educação de Liceu comum de sua época, posteriormente foi para a Escócia estudar engenharia mecânica, e depois engenharia naval. Em férias fez uma viagem ao Oriente onde escreveu o Opiário. Entre todos os heterônimos, Campos foi o único a manifestar fases poéticas diferentes ao longo de sua obra. Era um engenheiro de educação inglesa e origem portuguesa, mas sempre com a sensação de ser um estrangeiro em qualquer parte do mundo.
Vera Pedro
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